"... Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta,
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles)
Quando nascemos, damos nosso (único) grito de liberdade – genuíno, por isso, dolorido. Por que liberdade é dor. Dor solitária. Dor liberta.
Na infância, queremos ir, ir sem sabermos aonde. Na adolescência, queremos ir aonde nos é proibido. Na fase adulta, queremos ir até onde nos parece seguro. Entramos na velhice, feito crianças – débeis, pueris até. Depois, a rebeldia adolescente retorna com toda a fúria daqueles tempos em que supúnhamos mudar o mundo (pelo menos, o nosso mundo). Mas tudo isso é “fogo de palha”. Por fim, se deixamos de querer, saímos do palco da vida, antes das cortinas baixarem.
Acabo de estereotipar aqui um ser humano que, se não existe, apresenta um traço qualquer semelhante a cada um de nós. Lá, no íntimo do nosso inconsciente, guardamos todas essas vivências, como exercícios de liberdade. Mas não quero me deter nesses pormenores, nem nos “pormaiores” (como brinca um amigo).
Quando a gente fala em 13 de maio, obviamente, a primeira coisa que pensamos é na abolição da escravatura – na imagem sofrida daqueles africanos moribundos, que foram ‘libertados’. Arrebentaram as correntes da senzala, queimaram os troncos, mas não reconheceram os negros sobreviventes como cidadãos, não lhes deram condições de escolha de vida. A história vem sendo mal contada, desde 1888. Não serei eu a mudar os rumos dessa lenda. Vamos ‘pular’ este episódio.
Em pleno terceiro milênio cristão, temos a escravidão moderna – bem vestida, maquiada, e – o principal – não reclama de coisa alguma. Juridicamente, é denominada “força de trabalho explorada compulsoriamente”. É homem ou mulher que trabalha sem as mínimas condições, à mercê da vontade do “patrão”. Não são chamados de escravos, por que os tempos são outros, mas revivem uma história passada, que não aprenderam na escola da vida. Talvez, ignorância, comodismo. Não importa. Escravidão.
Em todos os tempos da humanidade, predomina a única escravidão absoluta, poderosa, quase sempre, dissimulada, escamoteada, em todos os lugares. Estou denunciando aqui a escravidão que cada ser humano impõe a si mesmo. Pode cortar os grilhões umbilicais, as cordas do trabalho compulsório, derrubar a última grade, mas, ainda assim, lhe restará a pior escravidão: si mesmo. Libertar-se de si mesmo – desaprender de ser – não depende de uma assinatura, seja de uma princesa, de uma plebéia, ou de um analfabeto.
Diante do exposto, penso eu que, por isso, parecemos (todos nós, seres humanos) baratas tontas: ontem caminhando, hoje correndo em espirais particulares. A todo instante, estufamos o peito e falamos ‘liberdade’, como quem decifrou a esfinge, e, por isso, não foi devorado. Mas passamos a vida inteira devorando momentos que não são nossos, desfilando pesadas máscaras, vomitando sonhos no escuro, sem sequer sabermos, de verdade e simplesmente, quem somos, para, então, desaprendermos tudo - desde o fim, até o começo.
que o sonho humano alimenta,
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda..."
(Romanceiro da Inconfidência – Cecília Meireles)
Quando nascemos, damos nosso (único) grito de liberdade – genuíno, por isso, dolorido. Por que liberdade é dor. Dor solitária. Dor liberta.
Na infância, queremos ir, ir sem sabermos aonde. Na adolescência, queremos ir aonde nos é proibido. Na fase adulta, queremos ir até onde nos parece seguro. Entramos na velhice, feito crianças – débeis, pueris até. Depois, a rebeldia adolescente retorna com toda a fúria daqueles tempos em que supúnhamos mudar o mundo (pelo menos, o nosso mundo). Mas tudo isso é “fogo de palha”. Por fim, se deixamos de querer, saímos do palco da vida, antes das cortinas baixarem.
Acabo de estereotipar aqui um ser humano que, se não existe, apresenta um traço qualquer semelhante a cada um de nós. Lá, no íntimo do nosso inconsciente, guardamos todas essas vivências, como exercícios de liberdade. Mas não quero me deter nesses pormenores, nem nos “pormaiores” (como brinca um amigo).
Quando a gente fala em 13 de maio, obviamente, a primeira coisa que pensamos é na abolição da escravatura – na imagem sofrida daqueles africanos moribundos, que foram ‘libertados’. Arrebentaram as correntes da senzala, queimaram os troncos, mas não reconheceram os negros sobreviventes como cidadãos, não lhes deram condições de escolha de vida. A história vem sendo mal contada, desde 1888. Não serei eu a mudar os rumos dessa lenda. Vamos ‘pular’ este episódio.
Em pleno terceiro milênio cristão, temos a escravidão moderna – bem vestida, maquiada, e – o principal – não reclama de coisa alguma. Juridicamente, é denominada “força de trabalho explorada compulsoriamente”. É homem ou mulher que trabalha sem as mínimas condições, à mercê da vontade do “patrão”. Não são chamados de escravos, por que os tempos são outros, mas revivem uma história passada, que não aprenderam na escola da vida. Talvez, ignorância, comodismo. Não importa. Escravidão.
Em todos os tempos da humanidade, predomina a única escravidão absoluta, poderosa, quase sempre, dissimulada, escamoteada, em todos os lugares. Estou denunciando aqui a escravidão que cada ser humano impõe a si mesmo. Pode cortar os grilhões umbilicais, as cordas do trabalho compulsório, derrubar a última grade, mas, ainda assim, lhe restará a pior escravidão: si mesmo. Libertar-se de si mesmo – desaprender de ser – não depende de uma assinatura, seja de uma princesa, de uma plebéia, ou de um analfabeto.
Diante do exposto, penso eu que, por isso, parecemos (todos nós, seres humanos) baratas tontas: ontem caminhando, hoje correndo em espirais particulares. A todo instante, estufamos o peito e falamos ‘liberdade’, como quem decifrou a esfinge, e, por isso, não foi devorado. Mas passamos a vida inteira devorando momentos que não são nossos, desfilando pesadas máscaras, vomitando sonhos no escuro, sem sequer sabermos, de verdade e simplesmente, quem somos, para, então, desaprendermos tudo - desde o fim, até o começo.
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