Sabe aquele sábado tão esperado – finalmente, folga? Mas você não previu (nem podia adivinhar) que fosse chover tanto. Chuva e frio causam mau humor nas pessoas, principalmente em vias públicas. Onde li isso? Provavelmente, em uma dessas pesquisas absurdas, tanto quanto eu, que (ainda) as leio. Pois bem, o caos resolveu se soltar nas ruas. Por todo o trânsito, a luz não se fez.
Então, finalmente, você chega ao centro da cidade. Você, que planejou tanto (chegou até a rezar) que passearia no shopping, sem preocupações a tiracolo. A entrada do prédio está cheia de gente de cara amarrada, guarda-chuva encharcado, soltando palavrões, com a passagem próxima dos veículos nas poças d’água. Mas nada disso te irrita, por que você sonhou tanto com esse sábado de folga. Pelo contrário, por um momento, você até esboça uma carranca, e solta um ‘merda’, meio murcho, é verdade, fazendo-se solidária aos demais.
Quando, aos trancos e barrancos, você, finalmente, se sente arremessada para dentro do shopping, percebe que muitas pessoas – centenas – tiveram a mesma idéia “sabadal”. A única diferença é que elas – as pessoas – ainda carregam seus guarda-chuvas, enquanto você teve o teu pisoteado, logo na entrada, ao salvar a alça da bolsa, agora mais amassada que pão adormecido.
Meio tonta, no corredor, você já não sabe mais por onde seguir. A tua indecisão te joga pra lá e pra cá. Aos empurrões, você se vê, novamente, na escadaria principal do shopping. Mas não perde a pose: reergue o pescoço altivo, desentorta o aro dos óculos (mais uma vez, amassado), alisa a bolsa (literalmente) surrada, e sai em passos decididos.
A imagem se desfaz, minutos depois, logo ali, no meio da rua, quando você sente os pés afundarem numa poça de lama. Corre dali, sem olhar para os lados, tentando se convencer de que ninguém viu. Só a chuva parece rir, em trovejadas.
Mas tudo isso não abala teu humor, que ainda tenta curtir o sábado de folga. Claro, por que não pensou nisso antes? A praça, lógico. Mesmo com chuva, ficam aquelas barracas de bugigangas. Até por que praça é aberta, mais ampla. Quem vai querer passear na praça, numa chuvarada dessas? Pouca gente, certamente.
O que você esqueceu foi dos (incontáveis) pombos que moram na praça. Esclarecendo: você esqueceu que os pombos, como as demais aves, por viverem no alto, não se importam muito (nem pouco) com os seres aqui embaixo. Resumindo, quando querem fazer suas necessidades fisiológicas (‘merda’ mesmo), desabafam lá de cima das árvores, despreocupadamente.
Ah, mas este é um sábado especial, teu sábado de folga, apesar da chuva, da lama. Ignorando isso, e qualquer outra coisa, os pombinhos da praça resolveram te homenagear, e organizaram um verdadeiro coral, numa árvore enorme, antes que você passasse por ali. Coral?!... Mas pombo não canta!... É isso: te presenteiam com a homenagem mais espontânea da natureza - um autêntico ‘banho de merda’ (uníssono, inesquecível), nos teus cabelos, roupas, bolsa. Nem a ponta do sapato foi poupada. Se tivessem treinado a mira, os pombos não seriam tão certeiros. Sabe-se lá o que comem, nessa praça, onde você nunca viu um só alguém “dando milho aos pombos”...
Mas a tua saga continua, minha amiga (já sou tua cúmplice), seguindo o exemplo da chuva, agora fina, que pinga na ‘merda’ toda que você carrega. Você se sente agora Joanna D’Arc, empunhando sua lança (bolsa amassada com lama e ‘merda’?). Nariz empinado, atravessa a rua, sem, por um instante só, pensar naquela palavrinha mágica: desistência. Afinal, é teu sábado de folga... E dizer que você leu até horóscopo, antes de sair de casa hoje...
Um tanto (e que tanto!) exausta, pára na calçada, tentando recapitular o que havia planejado para esse dia de folga tão sonhado. Isso. Você precisa dar uma passadinha rápida no caixa eletrônico, sacar dinheiro, para almoçar naquele restaurante vegetariano, inaugurado semana passada. Nada – chuva, lama, ou ‘merda’ (ou tudo isso junto) – te fará desistir, candidata à Polyanna.
Chegando ao prédio do Banco, o vigia faz sinal negativo, lá de dentro. Você insiste, até que ele abre a porta de vidro, e diz que, por causa do mau tempo, deu pane nas máquinas. Não há previsão de retorno do atendimento pelo sistema. Sem agradecer, você se retira, percebendo um “peso” (morno) a mais no pé esquerdo, onde um cachorro acaba de fazer xixi, se afastando todo pomposo e satisfeito. Você ainda vê “lulu” (parece um) continuar andando com o dono. Ambos seguem a caminhada, num rebolado cadenciado, pela calçada. Em outra circunstância, você estaria rindo, mas, agora, o que procura é uma poça d’água, para pelo menos aliviar o cheiro de urina do pé.
Determinada, você segue o que havia planejado tanto. O restaurante vegetariano fica a menos de dois quarteirões. Ora, eles devem aceitar pagamento pelo cartão. O teu dia de folga não pode ser só ‘merda’ de pombo distraído, ‘mijo’ de cachorro esnobe. Enquanto caminha, você até agradece à chuva, que lava um pouco a sujeira toda.
Na frente do restaurante, você ainda ajeita os cabelos, minha amiga (já sou tua admiradora), respira fundo (nem tanto, por causa do mau cheiro em volta), e entra. Um dos garçons, ao atendê-la, pede o número da mesa reservada, e qualquer documento de identificação. Mas você não sabia que tinha de ligar reservando mesa. Antes de sequer pensar em argumentar, você desiste, percebendo que o garçom, discretamente, tapa o nariz, enquanto se desculpa, encaminhando-a à saída.
Ah, mas quem disse que isso é o fim do teu sábado de folga? Absolutamente. Você é obstinada (faria inveja à Polyanna). Não vai ser uma ‘merdinha’ de nada, seguida por uma ‘mijadinha’ qualquer, que vai detonar a tua folga, neste sábado frio e chuvoso, cinzento, chafurdado. Não, e não mesmo.
Foi Drummond quem previu: “Tinha uma pedra no meio do caminho”. E foi justamente nessa pedra que você acabou de tropeçar. Caiu sentada na lama da calçada. É Drummond que volta: “E agora, José?”... Você não levanta. A alma heróica parece perder as forças. Quando tenta concatenar alguma – mísera – idéia, é chamada pelo nome, por uma voz que lhe é bastante conhecida. É teu chefe (lá do escritório), indignado, que, acompanhado pela esposa, te indaga se foi para isso que você insistiu tanto tempo por um sábado de folga.
Lentamente, sem olhar para o (limpo) casal, você levanta, silenciosa, retira os sapatos, desenterra a bolsa da lama, e caminha, sem virar para trás. Decide deixar o carro estacionado aonde ficou, na avenida mesmo. Afinal, é teu sábado de folga, e você havia se preparado (lembra?) até para uma caminhada, no fim do dia.
Então, finalmente, você chega ao centro da cidade. Você, que planejou tanto (chegou até a rezar) que passearia no shopping, sem preocupações a tiracolo. A entrada do prédio está cheia de gente de cara amarrada, guarda-chuva encharcado, soltando palavrões, com a passagem próxima dos veículos nas poças d’água. Mas nada disso te irrita, por que você sonhou tanto com esse sábado de folga. Pelo contrário, por um momento, você até esboça uma carranca, e solta um ‘merda’, meio murcho, é verdade, fazendo-se solidária aos demais.
Quando, aos trancos e barrancos, você, finalmente, se sente arremessada para dentro do shopping, percebe que muitas pessoas – centenas – tiveram a mesma idéia “sabadal”. A única diferença é que elas – as pessoas – ainda carregam seus guarda-chuvas, enquanto você teve o teu pisoteado, logo na entrada, ao salvar a alça da bolsa, agora mais amassada que pão adormecido.
Meio tonta, no corredor, você já não sabe mais por onde seguir. A tua indecisão te joga pra lá e pra cá. Aos empurrões, você se vê, novamente, na escadaria principal do shopping. Mas não perde a pose: reergue o pescoço altivo, desentorta o aro dos óculos (mais uma vez, amassado), alisa a bolsa (literalmente) surrada, e sai em passos decididos.
A imagem se desfaz, minutos depois, logo ali, no meio da rua, quando você sente os pés afundarem numa poça de lama. Corre dali, sem olhar para os lados, tentando se convencer de que ninguém viu. Só a chuva parece rir, em trovejadas.
Mas tudo isso não abala teu humor, que ainda tenta curtir o sábado de folga. Claro, por que não pensou nisso antes? A praça, lógico. Mesmo com chuva, ficam aquelas barracas de bugigangas. Até por que praça é aberta, mais ampla. Quem vai querer passear na praça, numa chuvarada dessas? Pouca gente, certamente.
O que você esqueceu foi dos (incontáveis) pombos que moram na praça. Esclarecendo: você esqueceu que os pombos, como as demais aves, por viverem no alto, não se importam muito (nem pouco) com os seres aqui embaixo. Resumindo, quando querem fazer suas necessidades fisiológicas (‘merda’ mesmo), desabafam lá de cima das árvores, despreocupadamente.
Ah, mas este é um sábado especial, teu sábado de folga, apesar da chuva, da lama. Ignorando isso, e qualquer outra coisa, os pombinhos da praça resolveram te homenagear, e organizaram um verdadeiro coral, numa árvore enorme, antes que você passasse por ali. Coral?!... Mas pombo não canta!... É isso: te presenteiam com a homenagem mais espontânea da natureza - um autêntico ‘banho de merda’ (uníssono, inesquecível), nos teus cabelos, roupas, bolsa. Nem a ponta do sapato foi poupada. Se tivessem treinado a mira, os pombos não seriam tão certeiros. Sabe-se lá o que comem, nessa praça, onde você nunca viu um só alguém “dando milho aos pombos”...
Mas a tua saga continua, minha amiga (já sou tua cúmplice), seguindo o exemplo da chuva, agora fina, que pinga na ‘merda’ toda que você carrega. Você se sente agora Joanna D’Arc, empunhando sua lança (bolsa amassada com lama e ‘merda’?). Nariz empinado, atravessa a rua, sem, por um instante só, pensar naquela palavrinha mágica: desistência. Afinal, é teu sábado de folga... E dizer que você leu até horóscopo, antes de sair de casa hoje...
Um tanto (e que tanto!) exausta, pára na calçada, tentando recapitular o que havia planejado para esse dia de folga tão sonhado. Isso. Você precisa dar uma passadinha rápida no caixa eletrônico, sacar dinheiro, para almoçar naquele restaurante vegetariano, inaugurado semana passada. Nada – chuva, lama, ou ‘merda’ (ou tudo isso junto) – te fará desistir, candidata à Polyanna.
Chegando ao prédio do Banco, o vigia faz sinal negativo, lá de dentro. Você insiste, até que ele abre a porta de vidro, e diz que, por causa do mau tempo, deu pane nas máquinas. Não há previsão de retorno do atendimento pelo sistema. Sem agradecer, você se retira, percebendo um “peso” (morno) a mais no pé esquerdo, onde um cachorro acaba de fazer xixi, se afastando todo pomposo e satisfeito. Você ainda vê “lulu” (parece um) continuar andando com o dono. Ambos seguem a caminhada, num rebolado cadenciado, pela calçada. Em outra circunstância, você estaria rindo, mas, agora, o que procura é uma poça d’água, para pelo menos aliviar o cheiro de urina do pé.
Determinada, você segue o que havia planejado tanto. O restaurante vegetariano fica a menos de dois quarteirões. Ora, eles devem aceitar pagamento pelo cartão. O teu dia de folga não pode ser só ‘merda’ de pombo distraído, ‘mijo’ de cachorro esnobe. Enquanto caminha, você até agradece à chuva, que lava um pouco a sujeira toda.
Na frente do restaurante, você ainda ajeita os cabelos, minha amiga (já sou tua admiradora), respira fundo (nem tanto, por causa do mau cheiro em volta), e entra. Um dos garçons, ao atendê-la, pede o número da mesa reservada, e qualquer documento de identificação. Mas você não sabia que tinha de ligar reservando mesa. Antes de sequer pensar em argumentar, você desiste, percebendo que o garçom, discretamente, tapa o nariz, enquanto se desculpa, encaminhando-a à saída.
Ah, mas quem disse que isso é o fim do teu sábado de folga? Absolutamente. Você é obstinada (faria inveja à Polyanna). Não vai ser uma ‘merdinha’ de nada, seguida por uma ‘mijadinha’ qualquer, que vai detonar a tua folga, neste sábado frio e chuvoso, cinzento, chafurdado. Não, e não mesmo.
Foi Drummond quem previu: “Tinha uma pedra no meio do caminho”. E foi justamente nessa pedra que você acabou de tropeçar. Caiu sentada na lama da calçada. É Drummond que volta: “E agora, José?”... Você não levanta. A alma heróica parece perder as forças. Quando tenta concatenar alguma – mísera – idéia, é chamada pelo nome, por uma voz que lhe é bastante conhecida. É teu chefe (lá do escritório), indignado, que, acompanhado pela esposa, te indaga se foi para isso que você insistiu tanto tempo por um sábado de folga.
Lentamente, sem olhar para o (limpo) casal, você levanta, silenciosa, retira os sapatos, desenterra a bolsa da lama, e caminha, sem virar para trás. Decide deixar o carro estacionado aonde ficou, na avenida mesmo. Afinal, é teu sábado de folga, e você havia se preparado (lembra?) até para uma caminhada, no fim do dia.
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