sábado, 9 de maio de 2009

Não espirre, seu porco!...


Há menos de um mês, o ato de espirrar recebia apenas um “saúde” (até desapercebido) de quem estivesse por perto. Se fosse um espirro mais forte, com coriza, alguém sempre se manifestava: “Não espirre, seu porco!...” (Não sei se essa frase teve alguma influência, ou poder “sobrenatural”, no surgimento da influenza A (H1 N1), inicialmente chamada “gripe suína”.)
A verdade é que foi a partir da coriza de suínos contaminados, lá no pobre esquecido México (hoje, manchete da tragédia mundial), que a tal influenza nasceu, cresceu, e, sem pedir licença, começou a proliferar. Fazia tempo que a gente não assistia, na televisão, imagens diretamente do México, com aquele povo todo caminhando com máscaras. Tragédia sempre é sinônimo de Ibope. Fiquei sabendo até que aumentaram as vendas de espaços publicitários, que estão sendo intercalados com as “reportagens especiais” sobre as pobres vítimas da influenza A (H1 N1).
Fico até imaginando as redações de televisão:
- Chefe, está faltando matéria para o noticiário da hora.
- Pega “calhau” da gripe suína...
(Enquanto isso, as matérias que poderiam suscitar pensamentos e idéias ‘acerca de’ ficam mofando nos arquivos, por que não são denominadas “tragédias” – não matam, mas também não morrem, sobrevivem.)
Já se foi o tempo em que “três porquinhos” era estória pra fazer criança dormir. A contaminação suína está tomando conta do mundo. São 3.440 casos de influenza A (H1 N1) confirmados em 29 países, conforme a Organização Mundial de Saúde. O relatório inclui os seis casos da doença registrados no Brasil, até o caso de uma criança de Santa Catarina. Como não poderia deixar de ser, os Estados Unidos lideram até a lista dos países mais afetados pela doença (1.639 casos, com duas mortes).
Diante disso tudo, fico observando o ‘abalroamento’ de informações - encontradas e desencontradas - que chegam a nós, ‘pobres mortais’, que não estamos na lista das vítimas da gripe do momento. Temporão, o nosso ministro da Saúde, faz questão de afirmar que, mesmo com casos confirmados, o vírus da influenza A (H1 N1) não circula no Brasil. Alguns infectologistas renomados insistem que as máscaras não impedem o contágio, e que o vírus, que se alastra mais que a moda mundial, é o somatório das gripes humana, aviária e suína. Pra mim, que não sou ministra, nem infectologista, resta concluir que o que está havendo é a verdadeira “revolução dos bichos”. A diferença (da fábula à realidade atual) é que George Orwell não previa, em 1945 (quando o livro foi escrito), que ainda haveria uma humanidade que dissociaria a saúde da higiene. Penso mesmo que é por isso que a versão da nova gripe está chegando via porcos.
Mas há que se pensar mais a respeito. Alguém já parou pra pensar como devem estar vivendo hoje os hipocondríacos de todo o planeta? Se passam a vida inteira sofrendo ameaças de doenças existentes, e por isso imagináveis, como estão agindo (as vítimas da hipocondria) em relação à influenza A (H1 N1)? Arrisco supor que o número de hipocondríacos, atualmente, seja maior que os casos da gripe que domina as manchetes nacionais e internacionais. Alguém consegue visualizar a vida dessas pobres vítimas da imaginação doentia? Pois é, as conseqüências da influenza A (H1 N1), como já era de se esperar, são maiores que a OMS pode registrar. Persigo a minha imaginação, que estaciona diante de um açougue, onde vejo um casal hipocondríaco correr à rua, gritando: - Porco, não! Porco, não!... (Os gritos se confundem com buzinas, freadas bruscas, espirros... Espirros?!!)

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