Lembro agora que meu amigo radialista estava no auge do sucesso. Numa ocasião, estava ele em mais um evento social, e, como sempre, bebia sem parar. De repente, um grupo de mulheres eufóricas (que recém havia descoberto que meu amigo era o “grande radialista”) o interpelou: “É você o radialista?... Nossa!... Que bom te conhecer!... Além do programa na rádio, o que mais você faz?...” Meu amigo, que, aquelas horas, já estava bem pra lá de Bagdá, respondeu no ímpeto: “Além do programa, eu faço xixi, coco, e outras coisas do gênero!”... (O grupo afastou-se em silêncio.)
Pensando nisso, acho que meu amigo, em visível estado de embriaguez, estava – está – certo, por que ninguém deveria servir como exemplo de coisa alguma. Cada ser humano é exemplo de nada. Sei que não é fácil aceitar essa afirmação. Nem pretendo, aqui, convencer alguém que se acredita “exemplo”, seja do que for.
Já registrei, aqui mesmo, no blog, que gosto de um bom desafio. E um dos maiores desafios da minha vida é justamente desmitificar-me, diante das pessoas, mas, principalmente, diante de mim mesma. Sei que precisamos sempre usar uma ‘máscara’ – senão construída por nós mesmos, criada pelas pessoas que convivem conosco, a partir do que (“mal e porcamente”) conseguimos expressar, manifestar. É justamente esta “imagem” que eu me desafio sempre a quebrar, sem a intenção de ferir. Quero acreditar que, se, aos poucos, minhas máscaras todas forem caindo, ou sendo ‘caídas’, restará uma fresta, um naco de quem realmente sou - o fio de meada do “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates. Sou exemplo de nada, por que ainda não sei quem sou, e assim vou sendo (ou não), tateando meu próprio ser, como quem se cobre e se descobre, a cada instante único da vida. Não sou exemplo nem a mim mesma - nem bom, nem mau exemplo. O que errei já está errado (tenho de assumir, sofrer por isso, pois não acredito em ‘remendos’). Onde acertei, ou acho que foi um acerto, é sempre caminho pra seguir adiante.
Como todo ser humano, sou uma mescla de bondade e maldade. E sei agradecer às pessoas que sempre fazem brotar de mim, o meu melhor, a minha bondade genuína. Mas nem sempre sou “boazinha” (algumas pessoas já interpretaram isso como “falsidade” – não é). Existe em mim, como em todo ser humano, a maldade – o sarcasmo, a ironia cáustica -, e eu jamais a nego. Pelo contrário. Vivo em paz com os meus maus sentimentos, por que, acredito, um dia, poderão me ser úteis para o bem.
Por isso tudo, não me vejo exemplo de coisa alguma. Até por que o que mais eu sei fazer na vida – escrever – eu apreendi. Não nasci escrevendo, nem concatenando idéias, ordenando raciocínios lógicos, elaborando histórias a serem contadas – com começo, meio e fim. Em meio a isso, sempre repito que o que mais fiz na vida foi aprender a não ser. E isso me foi benéfico, mais até do que eu mesma imagino. Enquanto eu aprendia a escrever, aprendia muitas coisas que eu não deveria (por mim mesma) reproduzir. Por isso também denomino minha alma torta. Sem justificativas. Sem defesas. Sem argumentos.
Obviamente, as criaturas que convivem com a gente sempre têm e mantêm uma “imagem” em relação à nossa “persona”. Mas isso não serve de parâmetro para coisa alguma, já que a “imagem” é personificada, de acordo com a visão de cada um. Eu não tenho nem um parâmetro de beleza estética, por exemplo, por que minha visão é outra. Eu sempre busco conhecer o além-superfície do ser humano. Não me interessa a máscara mais usada, aquela que a própria criatura ajeita, retoca, maquia a todo momento. Sei lá. Acho que quero descobrir o outro, como o faço comigo mesma – na escuridão, na cegueira da interpretação dos sinais. É tão-somente a minha visão, e isso não altera coisa alguma. Ainda bem.
Recordo que, depois de uns vinte anos de distanciamento, reencontrei uma amiga de infância. Eu estava com minha filha, a quem essa amiga me definiu: “Tua mãe foi sempre assim: muito louca”. Rimos disso. Lembramos que, quando éramos crianças, eu sempre dizia à ela: Não existe ‘não pode’; existe algo ou alguém que impede. Era o impossível tomando conta de mim, da minha infância, da minha vida torta. E eu nem sabia o que vinha pela frente...
Pensando nisso, acho que meu amigo, em visível estado de embriaguez, estava – está – certo, por que ninguém deveria servir como exemplo de coisa alguma. Cada ser humano é exemplo de nada. Sei que não é fácil aceitar essa afirmação. Nem pretendo, aqui, convencer alguém que se acredita “exemplo”, seja do que for.
Já registrei, aqui mesmo, no blog, que gosto de um bom desafio. E um dos maiores desafios da minha vida é justamente desmitificar-me, diante das pessoas, mas, principalmente, diante de mim mesma. Sei que precisamos sempre usar uma ‘máscara’ – senão construída por nós mesmos, criada pelas pessoas que convivem conosco, a partir do que (“mal e porcamente”) conseguimos expressar, manifestar. É justamente esta “imagem” que eu me desafio sempre a quebrar, sem a intenção de ferir. Quero acreditar que, se, aos poucos, minhas máscaras todas forem caindo, ou sendo ‘caídas’, restará uma fresta, um naco de quem realmente sou - o fio de meada do “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates. Sou exemplo de nada, por que ainda não sei quem sou, e assim vou sendo (ou não), tateando meu próprio ser, como quem se cobre e se descobre, a cada instante único da vida. Não sou exemplo nem a mim mesma - nem bom, nem mau exemplo. O que errei já está errado (tenho de assumir, sofrer por isso, pois não acredito em ‘remendos’). Onde acertei, ou acho que foi um acerto, é sempre caminho pra seguir adiante.
Como todo ser humano, sou uma mescla de bondade e maldade. E sei agradecer às pessoas que sempre fazem brotar de mim, o meu melhor, a minha bondade genuína. Mas nem sempre sou “boazinha” (algumas pessoas já interpretaram isso como “falsidade” – não é). Existe em mim, como em todo ser humano, a maldade – o sarcasmo, a ironia cáustica -, e eu jamais a nego. Pelo contrário. Vivo em paz com os meus maus sentimentos, por que, acredito, um dia, poderão me ser úteis para o bem.
Por isso tudo, não me vejo exemplo de coisa alguma. Até por que o que mais eu sei fazer na vida – escrever – eu apreendi. Não nasci escrevendo, nem concatenando idéias, ordenando raciocínios lógicos, elaborando histórias a serem contadas – com começo, meio e fim. Em meio a isso, sempre repito que o que mais fiz na vida foi aprender a não ser. E isso me foi benéfico, mais até do que eu mesma imagino. Enquanto eu aprendia a escrever, aprendia muitas coisas que eu não deveria (por mim mesma) reproduzir. Por isso também denomino minha alma torta. Sem justificativas. Sem defesas. Sem argumentos.
Obviamente, as criaturas que convivem com a gente sempre têm e mantêm uma “imagem” em relação à nossa “persona”. Mas isso não serve de parâmetro para coisa alguma, já que a “imagem” é personificada, de acordo com a visão de cada um. Eu não tenho nem um parâmetro de beleza estética, por exemplo, por que minha visão é outra. Eu sempre busco conhecer o além-superfície do ser humano. Não me interessa a máscara mais usada, aquela que a própria criatura ajeita, retoca, maquia a todo momento. Sei lá. Acho que quero descobrir o outro, como o faço comigo mesma – na escuridão, na cegueira da interpretação dos sinais. É tão-somente a minha visão, e isso não altera coisa alguma. Ainda bem.
Recordo que, depois de uns vinte anos de distanciamento, reencontrei uma amiga de infância. Eu estava com minha filha, a quem essa amiga me definiu: “Tua mãe foi sempre assim: muito louca”. Rimos disso. Lembramos que, quando éramos crianças, eu sempre dizia à ela: Não existe ‘não pode’; existe algo ou alguém que impede. Era o impossível tomando conta de mim, da minha infância, da minha vida torta. E eu nem sabia o que vinha pela frente...
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